sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

ALIMENTAÇÃO VIVA Uma folga para o fogão Dieta natural veta o uso de temperatura e de comidas industrialmente processadas



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Outros nomes para a mesma dieta, baseada no consumo de grãos, frutas, legumes e verduras, são crudivorismo, “living food” e “raw food

Um preparo do receituário clássico da alimentação viva todo mundo já ouviu falar: o suco verde. Mas para quem está pensando que seus praticantes sobrevivem só de salada e suquinho, há receitas, chefs e restaurantes contemporâneos que provam o contrário – ainda que em Belo Horizonte a moda ainda não tenha chegado ao mercado, há casas espalhadas pelo mundo que se dedicam à dieta há pelo menos dez anos.
Entre os gurus da corrente no Brasil está um médico, o cirurgião Alberto Peribanez Gonzalez, autor de “Lugar de Médico É na Cozinha” (ed. Alaúde), uma das obras de referência do assunto. Ele explica que os vegetais não podem ser aquecidos para preservar as enzimas e vitaminas, que se desnaturam na presença da temperatura acima de 42ºC. O ideal é aquecê-los só até 38ºC.
“Quando se cozinha o alimento, a temperatura elimina 50% da proteína e 70% de todas as vitaminas. Das do complexo B, as perdas chegam a 95%. O que a gente defende é que se aproveite integralmente o que cada alimento tem. A natureza fez assim para alimentar a vida, que evoluiu a partir do que lhe foi oferecido”, diz o médico, que, como o título de sua principal obra explica, foi mesmo para a cozinha e desenvolveu receitas seguindo a teoria.
Para este ano, ele prepara o lançamento de um novo livro, “Cirurgião Verde”, pela mesma editora.
Técnicas. E, se não podem ser assados nem levados ao fogo, o que então é possível fazer com os alimentos? Algumas das técnicas fazem brilhar os olhos de muitos chefs: hidratação, germinação, desidratação e fermentação dos ingredientes estão entre elas.
Outra técnica bastante usada é a prensagem de ingredientes com limão e sal, para aproveitar alimentos que normalmente não se come crus, como berinjela, brócolis e couve-flor. A partir do calor e do movimento das mãos, os ingredientes se tornam mais palatáveis.
Contrariando o ditado que diz que “o apressado come cru”, no caso da comida viva, o preparo pode demorar dias – imagine ter de esperar o broto nascer da semente para só então comê-lo? É uma dieta para quem tem paciência – e dinheiro, já que tudo deve ser orgânico.
O Le Manjue Organique, em São Paulo, tem no cardápio preparos que seguem a corrente – ainda que não seja uma casa dedicada somente a esta dieta e inclua receitas de outras vertentes naturais.
Comandante do restaurante, o chef Renato Caleffi explica algumas das técnicas que usa: a couve manteiga é refogada com o calor dos dedos e recebe só um pouco de limão (para marinar) e azeite. Outras receitas são o espaguete de legumes crus com quinoa germinada e o gaspacho com maca peruana (um tubérculo andino), biomassa de banana verde e azeite de alecrim. Tudo absolutamente cru.
“É uma comida gostosa, mas supertrabalhosa, quase inviável para a rotina de um restaurante. Ainda assim, tenho clientes que pedem. O número de pedidos sempre aumenta na segunda-feira, talvez porque seja o dia em que as pessoas começam a dieta”, explica, rindo um pouco da situação.
Para a nutricionista Izabela Damasceno, do Espaço Águas Claras, por mais que seja complicado segui-la à risca, acrescentar pratos da alimentação viva no cardápio pode ser muito benéfico.
“É muito difícil manter uma alimentação tão restrita, mas é interessante tentar balancear. Incluir na dieta sempre que possível brotos germinados, comidas frescas e cruas traz uma série de benefícios para o corpo, como a concentração maior de vitaminas, minerais, fibras e gorduras boas. Não precisa ser radical”, orienta a profissional da área.

Alimentos proibidos

Nem só o uso de fogo é vetado pelos praticantes da alimentação viva. As restrições se estendem a vários tipos de ingredientes.
Veja alguns que eles não consomem:
Açúcar. Considerado um alterador do metabolismo, ele fica de fora da alimentação viva. Seu substituto são os açúcares naturais das frutas frescas
Pães e farinhas.Todo tipo de massa é vetada por quem adere à dieta. Para substituí-los, há receitas como biscoitos desidratados e tortas de grãos germinados
Gorduras hidrogenadas. Produtos processados industrialmente são cortados da alimentação. No lugar de sorvetes e bolos, são consumidas receitas com germinados
Laticínios e carnes. Assim como na dieta vegana, todo produto de origem animal é proibido. Leites vegetais, como o de amêndoas e aveia cumprem esse papel
 
Manual do cru
 

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